Artur Luiz Andrade   |   16/08/2022 12:05   |   Atualizada em 16/08/2022 12:18

VP da Latam fala de saída do Chapter 11, acordo com Delta e corporativo

VP do Grupo Latam, Andreas Schek fala sobre a volta do mercado de viagens corporativas

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
O vice-presidente de Vendas do Latam Airlines Group, Andreas Schek
O vice-presidente de Vendas do Latam Airlines Group, Andreas Schek
SAN DIEGO - O vice-presidente de Vendas do Latam Airlines Group, Andreas Schek, está na GBTA 2022, em San Diego, e falou com o Portal PANROTAS sobre a volta das viagens corporativas e temas que irão gerar boas notícias para a empresa ainda neste semestre: o início da joint-venture com a Delta Air Lines (nas próximas semanas) e a saída do processo de recuperação judicial (Chapter 11), até o final do ano.

Segundo Schek, a Latam lidera no Brasil em oferta para o mercado de viagens corporativas (40%) e o produto Premium Economy tem ajudado na preferência dos viajantes a negócios.

O VP do Grupo Latam também deu números da recuperação no Brasil e em outros países da região (somos 50% das vendas do grupo), deu perspectivas para questões como alta das tarifas e retomada dos voos internacionais, e ainda concordou com a fala de Jerome Cadier no Fórum PANROTAS, de que as empresas de compra de milhas aéreas são um câncer para o setor, em nada agregando à indústria de Viagens e Turismo.

PORTAL PANROTAS – Como está sendo a volta dos viajantes corporativos no Grupo Latam, tanto no Brasil como nos demais países da América do Sul?
ANDREAS SCHEK – O viajante a negócios demorou um pouco mais a voltar, mas isso já era esperado. Hoje temos uma diferença de cerca de 10 pontos na velocidade de retorno, mas esse gap está se fechando cada vez mais (em relação ao lazer).

PANROTAS – Se comparamos com o pré-pandemia, o corporativo já estaria em que percentual?
SCHEK – Entre 65% e 70% do pré-pandemia. Depende também do mercado. No doméstico, que está muito mais forte, estamos quase em 100%. No regional está mais lento e no internacional está no meio, porque os países da América do Sul demoraram muito a organizar, o fim das restrições, as regras...

PANROTAS – O que o viajante corporativo está buscando hoje na companhia aérea? Qual a prioridade desse cliente?
SCHEK – Vemos hoje que nosso lançamento da Premium Economy foi muito relevante (para esse passageiro). Lançamos cinco dias antes da pandemia. Mas agora, há cerca de três meses, temos o produto completo, com assento livre ao lado, comida diferenciada, mais espaço para as pernas, prioridade de embarque. A comodidade desse produto foi muito bem recebida pelo viajante corporativo.

PANROTAS – O produto já está em quantas aeronaves da frota?
SCHEK – Em 100% da frota doméstica e regional. Usamos as três primeiras filas, com assento do meio vazio, e podemos chegar a até cinco fileiras, dependendo da configuração do avião.

PANROTAS – E as rotas corporativas? Estão de volta à malha, já que na pandemia a Latam priorizou as rotas de lazer.
SCHEK – As rotas no Brasil já voltaram e acrescentamos dez novos destinos à malha, chegando a 64.

PANROTAS – Mas a grande maioria para o viajante de lazer. O corporativo não perdeu espaço nessa nova malha?
SCHEK – Não. As rotas corporativas foram mantidas e intensificadas nos hubs. No internacional, temos hoje 20 rotas no Brasil, contra 26 antes da pandemia. Nossa participação de mercado no corporativo está em 40% (levando em conta a oferta de assentos). Somos de longe a empresa aérea no Brasil com maior market share para o corporativo. Antes da pandemia, esse share estava dividido com as duas outras aéreas e hoje somos líderes absolutos. Temos orgulho do trabalho que fizemos na pandemia, reduzindo custos, revendo processos e por isso hoje podemos ter essa posição privilegiada para o mercado corporativo.

PANROTAS – E a relação com as TMCs, como evoluiu diante dessas mudanças?
SCHEK – Uma das primeiras decisões que tomamos quando entramos nesse processo de reorganização foi de fazer todos os reembolsos às agências e clientes e trabalhar em sintonia com eles. Respeitamos todos os contratos que tínhamos com eles antes da pandemia. Assim, isso permitiu que fortalecêssemos ainda mais nossa relação com as agências de viagens. Seguimos também aumentando os incentivos, temos planos robustos para essa relação. A venda indireta cresceu muitíssimo.

TARIFAS AÉREAS NAS ALTURAS

PANROTAS – O pós-pandemia, por diversos motivos, trouxe as tarifas mais altas dos últimos tempos. Até quando isso deve durar?
SCHEK – As pessoas me dizem que agora que a Latam está prestes a sair do Chapter 11 eu deveria estar mais tranquilo. Mas eu sempre lembro a elas que temos o alto preço dos combustíveis. É outra crise. Os custos estão muitos mais altos, o que impacta nos preços, mesmo com uma nova estrutura de custos, mais eficiente. O público realmente pensa que isso (aumento de tarifa) é margem, mas não é, é por conta do aumento de combustível. Nosso yield, o valor do bilhete, aumentou cerca de 20%, mas esse índice é completamente absorvido pelo aumento do combustível.

PANROTAS – Há uma luz indicando melhora nesse quadro?
SCHEK – Sim. O combustível começou a baixar, de US$ 160 para US$ 130, US$ 140. O que deve permitir que tenhamos preços mais competitivos.


VOOS COM A DELTA

PANROTAS – Sobre a parceria com a Delta Air Lines, anunciada em 2019, como está nesse momento?
SCHEK – Temos autorização de todos os países da América do Sul (onde a Latam opera), falta a documentação do DOT americano, que já aprovou o acordo proposto, e esperamos ter o ok final em uma ou duas semanas. Quando tivermos a imunidade anti-truste, podemos sentar com a Delta e planejar como vamos enfrentar o cenário atual em conjunto. Até agora, por impedimentos legais, isso não foi possível. Mas acredito que em no máximo um mês já estejamos planejando como melhorar o atendimento a nossos clientes nas ligações entre o Brasil e América do Sul e os Estados Unidos. Estamos falando de mais de 300 destinos novos que vamos poder oferecer com uma experiência única. E com uma empresa como a Delta que tem uma cultura organizacional muito parecida com a da Latam. Uma cultura super pró-cliente, muito orientada para o serviço, muito engajada. Vamos ter boas notícias para os clientes.

PANROTAS – Como essa aliança com a Delta vai impactar os voos internacionais no Brasil?
SCHEK – Quando começarmos as conversas mais profundas com a Delta vamos poder ter uma oferta distinta e mais competitiva para os Estados Unidos. Será um game changer no mercado. Quanto às demais regiões, estamos analisando como recuperar as rotas onde ainda não voltamos e como atender melhor o passageiro internacional.

CHAPTER 11

PANROTAS – Você mencionou a reorganização da empresa. Como está esse processo final do Chapter 11?
SCHEK – Já passamos por todas as autorizações da Corte dos Estados Unidos. Já temos o ok da junta de acionistas no Chile. Estamos agora fazendo a emissão das novas ações, de curto e longo prazos. O financiamento já está comprometido, falta agora a burocracia de finalização. O que deve ocorrer ao longo desse segundo semestre. Ou seja, estamos em um ano com dois processos muito importantes para a Latam, uma empresa mais eficiente e conectada com o mercado, especialmente o corporativo.

PANROTAS – Como a Latam sai desse processo todo, que coincide com a fase final da pandemia?
SCHEK – Estamos mais leves, uma empresa que redefiniu fortemente sua intenção e relevância no mercado. Ontem lançamos no Brasil nossa nova campanha, com o slogan Sem Fronteiras, que quer levar ao cliente final o que agora somos, uma empresa mais próxima, mais vibrante, com mais empatia e transparência no serviço a nossos clientes.

Reprodução/Facebook/Latam Airlines

AMÉRICA LATINA

PANROTAS – Como está o projeto de integração da América do Sul, ou mesmo Latina, com os voos da Latam?
SCHEK – A Latam hoje tem a metade do tráfego corporativo na América do Sul. Somos uma empresa onde uma das fortalezas é a malha aérea. Estamos sempre pensando em que novas conexões gerar para esses clientes. Por exemplo, em Lima temos um share de capacidade 22 pontos abaixo de nossa participação de mercado. Temos uma posição muito forte de conexão em Lima, o nosso segundo maior hub na região, atrás de Guarulhos e à frente de Santiago. Nosso compromisso com a região passa pela conectividade.

PANROTAS – Como a Latam vê o movimento da Abra, junção da Avianca com a Gol, que visa ser uma força na América Latina. E também o crescimento grande da Copa na região, inclusive no Brasil.
SCHEK – Sim, são agora três grupos bem definidos. A Abra, pelo tamanho da malha e da frota, nas cifras gerais é comparável (ao tamanho da Latam), mas claro a Latam tem uma trajetória, uma experiência e uma marca únicas, que tem muito mais vantagens no serviço que oferece a seus clientes. Mas vale dizer que ter grupos como esses é muito importante para a gente, pois geram mais awareness, mais racionalidade em como se dirige uma empresa, e como se compete. Esse movimento vai aprofundar a concorrência na região, o que no final do dia vai garantir ao cliente mais escolhas e o melhor serviço. Porque esses três grupos serão desafiados a ter melhores serviços, preços e eficiência. Por isso é sim positivo que existam esses três grupos.

TECNOLOGIA E ALIANÇAS

PANROTAS – Como a tecnologia está afetando a experiência do cliente no Grupo Latam?
SCHEK – Antes da pandemia, iniciamos um projeto profundo que repensava o que queríamos ser do ponto de vista tecnológico para nossos clientes. A resposta a nossas novas plataformas, ao app, foi muito boa por parte dos clientes. E geramos novos laços com esses passageiros, com uma comunicação mais direta, sem deixar de lado as vendas indiretas. Para as agências estamos investindo fortemente em NDC, para que tenham acesso a mais opções para seus clientes. Já temos várias agências conectadas, e esperamos até o fim do ano ter uma plataforma mais robusta para NDC. Estamos trabalhando em conjunto com as agências, os agregadores e os GDSs. À medida que o canal adiciona mais valor, estamos disponíveis também para atender vários custos desse canal, e com uma tecnologia de ponta que nos permita gerar um produto relevante ao cliente final.

PANROTAS – A Latam hoje não faz parte de alianças globais (já foi Star Alliance e Oneworld, da qual saiu em 2020, depois do fim da parceria com a American Airlines). Como você analisa esse posicionamento e há algum projeto de entrada na Skyteam, devido à aliança com a Delta?
SCHEK – Latam está sem aliança global, mas com alianças fortes com nossos parceiros, quanto a milhas, check-in, bagagem... No final do dia, a experiência é seamless para o passageiro. Não está nos nossos planos ingressar em uma nova aliança, pois a experiência do cliente está muito boa com essas integrações com esses parceiros individuais.

Divulgação
Kits sustentáveis distribuídos a bordo
Kits sustentáveis distribuídos a bordo

SUSTENTABILIDADE

PANROTAS – A Latam tem sido mais ativa e engajada em programas de sustentabilidade. Como estão esses programas e o que está sendo feito ou proposto para além da compensação das emissões de CO2?
SCHEK – O primeiro grande compromisso a longo prazo é usar o combustível SAF (substituto limpo para o querosene fóssil) e isso deve estar disponível aqui em larga escala somente em 2050. Estimamos que em 2030 tenhamos apenas 5% de disponibilidade do SAF no mercado. Além disso, temos outras metas, como trabalhar rotas de voos neutras. Em cada mercado doméstico, temos as sextas-feiras neutras. A Latam compensa essas rotas, com investimento nas comunidades para gerar empreendimento, retroalimentar essa indústria. Para nossos clientes corporativos temos programas em que a Latam compensa a mesma quantidade de C02 compensada pela empresa cliente. E assim o impacto é maior. Já temos muitas empresas engajadas com esse programa, pois não basta ser a favor, mas cada um fazer a sua parte. Também temos o programa de reutilizar uniformes usados com artesãos locais, além das necéssaires sustentáveis, sem uso de plástico. A utilização de plástico de uso único será eliminada dos voos da Latam já em 2023. Temos ainda um acordo com a Airbus de capturar carbono na atmosfera e armazenar em poços de petróleo em desuso. No curto prazo, em resumo, vamos retirar o plástico de uso único dos voos; em 2027 queremos compensar a metade dos nossos voos domésticos e zero resíduos despejados; em 2030, 5% do combustível deve ser SAF; e em 2050 sermos carbono neutro. Nosso programa de sustentabilidade é muito profundo, mas sempre em conexão com as comunidades.

NÚMEROS

PANROTAS – Para finalizar, alguns números rápidos. Quanto o Brasil representa em vendas para o Grupo Latam hoje?
SCHEK – Cerca de 50% em vendas. No segundo trimestre do ano, estivemos apenas 6% abaixo do mesmo período de 2019. Já é franca recuperação.

PANROTAS – E o número de funcionários? Como está essa recuperação da força de trabalho?
SCHEK – Antes da pandemia tínhamos 42 mil colaboradores, chegamos a menos de 30 mil e hoje temos mais de 30 mil, privilegiando nas novas contratações quem foi Latam.

PANROTAS – O grupo chegou a 74% da operação pré-pandemia. Todos os mercados domésticos já passaram dos 100%, como no caso do Brasil?
SCHEK – Único país onde estamos com o doméstico abaixo de 100% é o Peru. Na Colômbia chegamos a 160%, no Equador 140%, com aumento de oferta considerável. A resposta a nossos investimentos em malha e ao produto corporativo tem sido excelente. Somos a única companhia na região a poder oferecer essa variedade de experiências, especialmente ao mercado corporativo.

PANROTAS – Depois do fim das lojas da Latam Travel no Brasil, quais os planos para a operadora do grupo?
SCHEK – Ainda temos operações com lojas em Chile e no Peru. E também duas lojas no Equador e uma no Paraguai. Temos produtos para a web no Brasil. Não há planos de voltar com as lojas no mercado brasileiro. A grande missão dar ao cliente um produto de alta atenção, com experiência rápida, seamless, na companhia aérea, no celular. Isso que estamos buscando.

PANROTAS – Só não falamos de fidelidade. Você acompanhou a repercussão da fala do CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, no Fórum PANROTAS, sobre o tema?
SCHEK – Sim, ele disse que o negócio de compra de milhas (por OTAs especializadas) é como um câncer para o setor. E realmente é. Pois não gera valor. Os programas de passageiro frequente devem gerar valor, melhores experiências. E trocar por dinheiro não dá esse benefício. Mas acredito que os negócios com o tempo vão se definindo de acordo com o valor que agregam na indústria. E esse é um tipo de negócio que agrega muito pouco valor. Queremos que o próprio cliente se dê conta que é algo instável demais, é muito limitado, e que não vai agregar valor a sua experiência. E esse negócio irá se apagando aos poucos.

O Portal PANROTAS viaja a convite da GBTA, American Airlines e proteção GTA USA MAX COVID MAIS, incluindo contra a covid-19

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