Artur Luiz Andrade   |   02/09/2020 08:55   |   Atualizada em 02/09/2020 09:08

Agente de viagens desabafa sobre dificuldade em conseguir crédito

Paulo Battistini, da BattsTour, é um dos pequenos empresários do Turismo em busca de ajuda financeira

O agente de viagens Paulo Battistini, da BattsTour, de São Paulo, enviou um relato em tom de desabafo ao Portal PANROTAS, contando sua trajetória para tentar conseguir empréstimo via linhas de crédito lançadas pelos governos federal e estadual. Mais de cinco meses de crise e pandemia e ele só recebeu “não”, como conta abaixo.

Na semana passada o Ministério do Turismo, em entrevista ao Portal PANROTAS, falou sobre o tema e explicou os gargalos das linhas de crédito e o que tem feito para melhorar esse acesso. Apenas 15% dos R$ 5 bilhões do Fungetur, por exemplo, já foram repassados a instituições financeiras, e 97% para as pequenas empresas do setor. Capital de giro é o principal motivo dos empréstimos. E as garantias exigidas os principais motivos de recusa dos mesmos.

No mês passado, o Sebrae listou 183 linhas de crédito disponíveis para pequenas empresas. Battistini não conseguiu acessar essa ajuda em forma de empréstimo.

Confira a seguir o relato, um dos muitos que chegam com dúvidas, angústias e questionamentos sobre o acesso às linhas de crédito.


FUNGETUR - uma ilusão chamada Crédito para Pequenas Empresas

Meu nome é Paulo.


Como muitos brasileiros, não desisto nunca.

Sou, ou melhor, tento ser um empreendedor.

Em 2012, após trabalhar bastante tempo com Turismo, tive o sonho e o desejo de abrir a minha própria agencia de viagens.Através do SEBRAE-SP, fui orientado a abrir uma MEI e assim nascia a minha empresa de Viagens Personalizadas.
Após 6 anos e muito trabalho, consegui movimento o suficiente para mudar o enquadramento da minha empresa já que o faturamento (não a RENTABILIDADE) estava passando dos R$ 400 mil. O sonho de ter uma empresa de sucesso começava a se tornar realidade e a dar mais energia para trabalhar com muito afinco.

Quando em 2020 veio a pandemia. Os negócios simplesmente pararam. Ninguém mais queria ou podia viajar. Os eventos – que sempre foram nosso forte – simplesmente foram cancelados. A situação estava bem complicada, mas foram anunciadas aos quatro cantos, medidas para ajudar a salvar os micro e pequenos empresários para que continuassem em funcionamento.

Divulgação
Paulo Battistini
Paulo Battistini
Em 29 de abril
, orientado pelos diversos meios de comunicação, dei entrada a um pedido de financiamento do FUNGETUR (Fundo Geral do Turismo), junto à agencia DESENVOLVE SP, ligada ao governo do Estado de São Paulo. Na solicitação, pedi um capital de giro equivalente a 8 meses de faturamento que tive como base no ano de 2019 e a resposta, depois de cerca de 45 dias, foi que só seria possível aprovar o equivalente a 1 mês.

Ainda assim, tive de enviar vários documentos e certidões, o que fiz no prazo que me foi solicitado. Nisso passaram-se 90 dias até que enfim, fui informado que o contrato para a operação estava sendo gerado. Hoje, 1º de setembro, esse contrato AINDA não chegou.

Em contato com a Desenvolve SP fui informado que o sistema estava com uma falha nessa geração de contratos e que deveria aguardar. Depois, a explicação mudou alegando que o valor aprovado era inferior ao mínimo concedido por essa agência e que estavam em contato com a gerência para ver o que poderia ser feito. Até agora, ainda nada...

Nesse meio tempo, participei de vários workshops e eventos virtuais promovidos pelo SEBRAE e por outro organismos especialmente sobre crédito e, em um deles, foi anunciada uma linha de crédito com taxa de juros “decente” e com a promessa de liberação dos recursos em uma semana! De pronto entrei com o pedido e enviei toda a documentação e a rápida resposta (3 dias) foi que como eu já era uma EPP (empresa de pequeno porte), não poderia utilizar esses recursos que erma exclusivos para microempresas.

É bem difícil receber essa resposta principalmente tendo em vista que meu faturamento caiu para níveis inferiores ao de uma MEI (microempresa individual) e que só fiz a readequação da empresa para poder ficar dentro das regras da lei...

No banco em que tenho conta (desde 2012) tentei um empréstimo amparado pelo PRONAMPE, mas fui informado que os valores desse tipo de financiamento, quando liberados, duraram HORAS!!! Isso mesmo, não dias, nem semanas, mas horas...
Esse mesmo banco disse ser impossível me ajudar com outra linha de crédito, pois, mesmo sem nenhuma restrição no meu nome ou no nome da empresa, as GARANTIAS para o pagamento não poderiam ser cumpridas, uma vez que já havia negociação de dívidas de pessoa física junto ao banco.

O que me sinto impelido a compartilhar é a falta de consideração com os empreendedores – em especial do setor de Turismo – que estão completamente desamparados. O anúncio “oficial” era que o FUNGETUR tinha R$ 5 bilhões disponíveis para socorrer as empresas do setor. E ainda mais, que os pequenos e microempresários teriam apoio do governo e das instituições de crédito, bem como dos bancos que ainda insistem em anunciar na TV, rádio e na internet que estão ao lado do empreendedor.

A sensação de impotência minha e de muitos colegas que, como eu, tiveram seu negócio congelado é terrível... A busca pelo apoio financeiro que permitiria meu negócio continuar vivo é uma verdadeira batalha pela sobrevivência em meio a “nãos” e portas fechadas por não possuir garantias. O dia a dia que já não está fácil, fica pior enquanto a falta de perspectiva de reação do setor se torna cada dia mais cruel.

Enfim, a grande verdade é que ser um empreendedor do ramo de Turismo em nosso País é uma tarefa não para os fortes, mas sim para semideuses.

Enquanto isso, continuamos aguardando que algum valor desses tão anunciados socorros, enfim cheguem a nós aqui na base da pirâmide...

Paulo Battistini
BattsTour
paulo@battstour.com

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