Da Redação   |   29/09/2023 08:00

Pirenópolis e os sabores do cerrado; conheça esse charme brasileiro

A 120 quilômetros de Goiânia, cidade é um preservado centro histórico colonial


Maria Izabel Reigada / PANROTAS
Casario colonial pelas ruas do centro histórico de Pirenópolis
Casario colonial pelas ruas do centro histórico de Pirenópolis

A 120 quilômetros de Goiânia e 150 quilômetros de Brasília, Pirenópolis é um daqueles destinos onde se pode fazer um pouco de tudo – ou de nada. Com um preservado centro histórico colonial, a cidade do interior de Goiás segue um ritmo de vida calmo, que convida a desacelerar, desconectar e aproveitar o melhor do dolce far niente. Sem semáforos, sem edifícios e protegida pela Serra dos Pireneus, Pirenópolis é o destino certo para colocar em prática o ócio criativo. Ou não.

Se você gosta de explorar ao máximo o que um destino tem a oferecer, já te aviso que precisará de muitos, muitos dias em Pirenópolis. No meu caso, foram cinco dias para, ao final, ter a certeza de que precisaria de mais... A cada restaurante visitado, um novo endereço entra na lista. O mesmo acontece depois de conhecer uma cachoeira ou fazer uma trilha. E as opções de hospedagem em Piri, como é carinhosamente chamada, também convidam a muitos retornos.

No pós-pandemia, o destino se beneficiou dos atrativos naturais e atraiu visitantes em busca de espaços ao ar livre e contato com a natureza. No ano passado, marcado pelo boom do Turismo doméstico, a cidade de 25 mil habitantes recebeu mais de um milhão de visitantes. A proximidade com Brasília e Goiânia também atrai visitantes do “anywhere office”, que descansam nos finais de semana e prolongam a estada, trabalhando dos hotéis, pousadas e das muitas casas de temporada disponíveis. Com fartas opções, Piri consolida-se como destino para públicos diversos e, em algumas datas, vê sua calmaria desaparecer com a chegada de milhares de visitantes.

Para minha sorte, experimentei somente a “calmaria” por lá, disputando a mesa do café da manhã apenas com os papagaios, já que queríamos a sombra da mesma goiabeira, na Pousada das Cavalhadas. Eu cedi. A seguir, um pouco do que fazer em Pirenópolis.

Hotelaria

Em estilo colonial e com o privilegiado endereço de estar em frente da Igreja Matriz, a Pousada das Cavalhadas foi aberta em 1986, mas já funcionava como hospedaria desde os anos de 1940. Conta com 18 quartos e a suíte colonial, novidade criada há cerca de dois anos, quando a pousada adquiriu o casarão vizinho, do século 18. Hoje, esse casarão é o endereço do café da manhã, de duas suítes e do Bristrô Cavalhadas. Na área em que é servido o café, as árvores frutíferas são um convite aos papagaios, maritacas e pássaros que têm prioridade na escolha das “mesas”.

Para quem quer caminhar para os principais atrativos de Pirenópolis – com exceção das cachoeiras – há uma série de pousadas no centro histórico, com preços variados. Uma das mais sofisticadas é o Casarão Villa do Império, que integra a associação Roteiros de Charme. Trata-se do primeiro hotel boutique de Goiás, com 19 suítes instaladas em um casarão do século 18.

A três quilômetros do centro, a Pousada Cavaleiro dos Pireneus é uma opção que une requinte e simplicidade, com spa próprio. Entre as novidades, a Quinta de Santa Bárbara fica na região central, enquanto a Villa do Comendador está fora de Pirenópolis, no Km 25 da GO 431.

No estilo resort, há ainda a Pousada do Pireneus, com programação e atrações para crianças. A Secretaria de Turismo de Pirenópolis tem um serviço por WhatsApp para informar sobre a disponibilidade de leitos na cidade. O número é (62) 3331-2633

Gastronomia

Os sabores do Cerrado marcam a gastronomia goiana, para muito além do pequi. Mas não provar o arroz de pequi é quase uma afronta para os goianos. Em Piri, a diversidade gastronômica impera e há excelentes opções de carnes, massas, risotos e a melhor fondue do Brasil. Sim, a fondue da chef Clara Gaehwiler, filha de goiana e suíço, foi eleito neste ano o melhor do Brasil em concurso do Turismo da Suíça aqui. Ela comanda o restaurante Ursus House e promete colocar a fondue no cardápio a partir de 7 de outubro próximo, quando é comemorado o aniversário da cidade.

Maria Izabel Reigada / PANROTAS
Carnes com molhos de frutas são diferencial no Bar des Artes
Carnes com molhos de frutas são diferencial no Bar des Artes

Na Rua do Lazer, uma ladeira exclusiva para pedestres no centro histórico, uma das boas opções é o Empório do Cerrado, com excelentes carnes e risotos à base dos temperos e frutos do cerrado. Outra opção próxima que surpreende com sabores inusitados é o Bar des Artes, na rua do Bonfim. As carnes são acompanhadas por molhos como o de amora ou de morangos picantes. À noite, o restaurante oferece pizzas e massas, com destaque para o nhoque da casa. Se o tempo estiver agradável, a dica é escolher uma mesa no quintal.

O brunch da Fazenda Vagafogo é uma experiência gastronômica e cultural. Instalado em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, o Santuário de Vida Silvestre Vagafogo tem cachoeira, trilhas, arvorismo e outras atrações, mas é o brunch que enche os olhos dos visitantes. Oferecido em três horários (9h; 11h e 13h), o brunch é um festival gastronômico elaborado a partir de frutas do cerrado, com pães e produtos feitos artesanalmente. Entre as opções há chutney de manga, geleias variadas e pesto com baru.

Vinhos e cervejas

As cervejarias artesanais, sucesso Brasil afora, também ganham espaço em Pirenópolis. Hoje são quatro fabricantes locais, entre elas a Santa Dica, na rua Aurora, no centro histórico, e a Cervejaria Casarão, na saída para importantes cachoeiras como a do Abade e Avalon. É da Casarão a primeira plantação de lúpulo de Goiás. São mais de dez tipos de cervejas e chopes artesanais e a possibilidade de visita guiada à fábrica – que é também a loja e o bar. Na Santa Dica, são oito rótulos e a dica é partir para a régua de degustação, assim fica mais fácil escolher entre os diferentes sabores oferecidos

Mas Pirenópolis produz também vinhos! A pioneira é a Vinícola Assunção, que em 2015 plantou oito mil pés de plantas e em 2017 teve a primeira produção, lançando o suco de uva Serra dos Pireneus, atualmente com produção de 40 mil garrafas/ano. Os vinhos começaram a ser produzidos em 2020 e hoje são dez mil garrafas anualmente. No ano passado, a Vinícola Assunção abriu também seu restaurante, junto ao parreiral, abrindo para almoço. À noite, o local realiza eventos sociais e corporativosbrindo para almoço. À noite, o local realiza eventos sociais e corporativosa.

Cachoeiras

Elas são a estrela do ecoturismo em Pirenópolis. Há mais de 80 cachoeiras no entorno da cidade, especialmente na rota da Águas Cristalinas e na Serra dos Pireneus. Em direção à serra, uma das mais próximas fica no Refúgio Avalon, com trilha ecológica e acessibilidade até a cachoeira, pequena, mas com poço profundo para banho. Na mesma direção, fica o Refúgio Ecológico Vargem Grande, que reúne três importantes cachoeiras: do Lázaro, Véu de Noiva e Santa Maria, essa última acessada em trilha de apenas 500 metros. O ingresso para visitar as três custa R$ 60 e a infraestrutura inclui banheiros e lanchonetes.

Divulgação
Queda de sete metros e poço cristalino na Cachoeira das Araras
Queda de sete metros e poço cristalino na Cachoeira das Araras

Uma das melhores infraestruturas, no entanto, está na Cachoeira do Abade. Há duas opções de trilha, uma mais longa, de 2,5 quilômetros, e outra de 500 metros para chegar diretamente à Cachoeira do Abade e seus 22 metros de queda. Pela mais longa, é possível parar em outras duas cachoeiras, com poços para banho. Vale a pena fazer a trilha longa, com calçamento e pontes pênsil. O destaque é a segunda cachoeira, do Sossego. Na nossa visita, fomos surpreendidos por dezenas de macacos prego que desciam pelos troncos e galhos das árvores, sem se aproximar da água. A ponte que une as duas trilhas é uma linda ponte pênsil, com 50 metros de comprimento e cerca de 24 metros de altitude, passando sobre as corredeiras do rio das Almas. De tirar o fôlego! O ambiente conta com restaurante, aberto somente até as 14h30 e o Flora Café, aberto durante todo o período de funcionamento da cachoeira. O ingresso é de R$ 55.

No circuito das águas cristalinas, a Cachoeira das Araras é a opção ideal para quem tem mobilidade reduzida ou crianças pequenas. O estacionamento é a poucos metros da cachoeira e estrutura com mesas, cadeiras e lanchonete foi instalado junto à cachoeira, de sete metros. O poço é cristalino e com partes rasas e mais profundas. Custa R$ 40.

História e cultura

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Pirenópolis data de 1727, quando um grupo de garimpeiros chegou à região em busca de jazidas de ouro. A cidade começou a se desenvolver ao redor da Igreja Matriz – reconstruída após o incêndio de 2002, considerado um dos dias mais trágicos de Pirenópolis – e, posteriormente, junto às igrejas do Bonfim e do Carmo. Na segunda metade do século 18, a exploração do ouro entra em crise e a economia da cidade se volta para a agricultura, pecuária e comércio.

Maria Izabel Reigada / PANROTAS
Mascarados no Museu do Divino, que conta história das cavalhadas
Mascarados no Museu do Divino, que conta história das cavalhadas

Boa parte dessa história está registrada na Fazenda Babilônia, do final do século 18 e tombada pelo Iphan. Com casarão construindo em estilo colonial que abriga capela, tem diversos muros de pedras erguidas por escravos. Foi engenho de açúcar e produziu mandioca e algodão, exportado para a Inglaterra. Participou do ciclo do café e recebeu a visita do viajante francês August Saint-Hilaire, que deixou importantes registros do local e teria sido o primeiro a chamar a fazenda pelo seu atual nome: Babilônia. É possível visitar a fazenda isoladamente ou incluir na visita a degustação do Café Sertanejo, um resgate dos sabores do período colonial, com receitas centenárias produzidas com a matéria-prima da própria fazenda. Com o café sertanejo, a visita sai R$ 132 e deve ser agendada.

A arquitetura colonial está presente em boa parte do centro histórico de Pirenópolis, que recebe esse nome oficialmente em 1890, em homenagem à Serra do Pireneus, que cerca toda a cidade. A história está registrada em muitas das casas originais de Pirenópolis, cuja arquitetura foi registrando o avançar do tempo, com a presença dos estilos neoclássico e art noveau. As igrejas Matriz e do Bonfim são de especial interesse para quem quiser saber mais sobre o desenvolvimento da cidade, assim como o Museu Lavras do Ouro.

A Igreja do Carmo abriga o Museu de Artes Sacras, enquanto a antiga Casa de Câmara e Cadeia é hoje o Museu do Divino, que conta a história da principal festa da cidade a festa do Divino Espírito Santo e suas cavalhadas. O “mascarado”, símbolo da cidade, é um dos principais elementos da festa e, de rótulos de cervejas a imãs de geladeira, eles estão por todos os lados de Piri.

Por Maria Izabel Reigada, especial para a Revista PANROTAS, que viajou com apoio da Secretaria de Turismo de Pirenópolis

A matéria é parte integrante do Guia de Férias PANROTAS, edição para a Abav Expo 2023. Confira, abaixo, a revista na íntegra:


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