Artur Luiz Andrade   |   03/02/2022 09:21 Atualizada em 03/02/2022 11:51

Política pode ajudar na volta dos cruzeiros? Entenda situação

Entenda como a política virou peça-chave na volta dos cruzeiros

Max Haack/Secult Salvador
Salvador
Salvador
Suspensa desde o começo de janeiro e pelo menos até o dia 18 deste mês, a temporada de cruzeiros no Brasil está mais ameaçada por questões políticas e pelo estigma contra os cruzeiros do que pela ômicron. Como vários estudos e países mostraram, o controle da nova variante de covid-19 não se dá pela proibição de viagens e sim pelo reforço de protocolos, como uso de máscara, testagem, distanciamento, filtragem do ar e, mais importante, pela vacinação obrigatória.

O navio de cruzeiro, como consequência do drama do começo da pandemia, com embarcações em quarentena e sem ter onde atracar, é hoje o único meio de transporte onde todos os passageiros e tripulantes são testados, em uma política de protocolos mundial, aprimorada para o Brasil pela Anvisa. Protocolos, claro, feitos antes da ômicron e que estavam prontos, por parte das companhias marítimas, para serem intensificados, com a testagem de todos os passageiros ainda no porto.

A Clia Brasil tenta reverter o quadro atual, com recomendação da Anvisa para fim da temporada, sugerindo os novos protocolos de testagem no porto e outras medidas a bordo. Mas se por um lado tem o apoio do governo federal, por outro se viu em meio a uma falta de uniformidade de entendimentos envolvendo a Anvisa e Estados e municípios.

Órgão independente do governo, a Anvisa tem tido atritos com o governo federal, cujo ápice foi uma carta aberta do presidente da agência, Antonio Barra Torres, para ninguém menos que Jair Bolsonaro.

Divulgação/Hayla Leite
Pier Mauá, no Rio
Pier Mauá, no Rio
Os Estados, assustados pelo aumento da ômicron e de olho na opinião pública, tomaram decisões distintas quanto ao tema. Na primeira reunião com o governo para deliberar sobre o cancelamento da temporada, como está no comunicado da Secretaria de Turismo da Bahia (veja abaixo), apenas os destinos do Sul disseram sim aos cruzeiros. São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas disseram não concordar com o retorno dos navios naquele momento de crescimento de casos da ômicron (começo de janeiro).

Uma temporada sem Santos e Rio de Janeiro fica inviabilizada. O Portal PANROTAS pediu às secretarias estaduais de Turismo de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas um posicionamento sobre o tema e se ainda estariam contrárias à volta dos cruzeiros ainda este ano. As respostas, que estão abaixo, resumem-se a declarações genéricas que não indicam quais serão seus votos em uma próxima reunião.

Nos bastidores, o Rio de Janeiro já teria aceitado o retorno dos cruzeiros e São Paulo estaria dialogando com o setor.

PANROTAS / Emerson Souza
Vinicius Lummertz, secretário de Turismo e Viagens do Estado de Paulo
Vinicius Lummertz, secretário de Turismo e Viagens do Estado de Paulo
SÃO PAULO
: “Sobre a decisão das empresas e da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar/Clia Brasil) de estender voluntariamente a suspensão das operações até 18 de fevereiro, a Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo informa que permanece à disposição para a busca de solução possível, desde que segura. O segmento de cruzeiros marítimos receberá a atenção dispensada aos demais, com tratamento respeitoso e amparado por decisões técnicas, adotadas sempre em conjunto. Um novo encontro com as autoridades de Saúde já foi solicitado. A Secretaria de Turismo e Viagens lembra que a gestão da pandemia em São Paulo é respaldada na ciência e na preocupação prioritária com a saúde da população.”

Divulgação
Gustavo Tutuca, secretário de Turismo do Rio de Janeiro
Gustavo Tutuca, secretário de Turismo do Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO
: “A Secretaria de Estado de Turismo reconhece a importância dos cruzeiros para o fomento do setor no Rio de Janeiro, mas segue as orientações do corpo técnico dos órgãos de saúde, que está trabalhando na atualização das regras sanitárias para a atividade.”

BAHIA: “O Estado da Bahia se posicionou sobre a retomada da temporada de cruzeiros no País. A exposição foi feita pela secretária de Saúde do Estado, Tereza Paim, e pelo secretário de Turismo do Estado, Maurício Bacellar, durante uma reunião, realizada de forma virtual, com representantes do Governo Federal e dos setores de saúde e de Turismo de Estados e municípios que recebem os navios.
Tereza Paim pontuou a atual situação que o País vem enfrentando com o aumento de casos de covid-19 e também um surto de Influenza. “Além da explosão de casos dessas doenças, ainda estamos enfrentando na Bahia problemas por conta das chuvas, que levou mais de 175 municípios a decretar estado de emergência”. A secretária ainda destacou que 6 casos da variante ômicron foram identificados em pessoas que estavam em navios atracados no porto de Salvador.
O secretário de Turismo reafirmou o posicionamento exposto pela secretária de Saúde. “Só é possível retomar qualquer atividade quando houver protocolo que atenda o atual cenário. Por enquanto não temos isso”, afirmou.”

ALAGOAS: "Desde o começo da pandemia, o Governo de Alagoas vem adotando uma postura de adequação dos serviços – públicos e privados – a partir de critérios técnicos-científicos estabelecidos pelos órgãos de saúde pública, como a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau/AL) e a Anvisa. Assim, a prorrogação para a retomada da temporada de cruzeiros 2021-2022 obedece aos protocolos sanitários determinados pelos órgãos competentes, para que se garanta a segurança da população, profissionais do turismo e turistas.
Os três navios que atracaram em Alagoas nesta temporada movimentaram cerca de R$10 milhões. Com a suspensão, o segmento do Turismo, sobretudo receptivos, bares, restaurantes e comércio, são os mais afetados, uma vez que tal setor é estimulado pela chegada de visitantes no Estado."

Em resumo: tudo indica que a temporada de cruzeiros poderá voltar se houver vontade política. Em todo o mundo, 85 países já retomaram os cruzeiros (sem suspensão desde o reinício), com mais de 200 navios ao mar, e o Brasil é o único que teve as operações suspensas. Mas vale lembrar que o Caribe é logo ali.


* Atualizado em 03/02, às 11h50, com o posicionamento de Alagoas

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