Da Redação   |   27/09/2019 11:54   |   Atualizada em 27/09/2019 12:02

Artigo: O Turismo, seus números e desafios

O tema se relaciona diretamente aos diferentes relatórios oficiais que creditam ao turismo um papel relevante na economia mundial. Leia o artigo completo


Emerson Souza
Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora da USP
Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora da USP

Internacionalmente, comemora-se o Dia Mundial do Turismo em 27 de setembro. A Organização
Mundial do Turismo (UNWTO) elegeu para 2019 o tema “Turismo e Empregos: um futuro melhor para todos”. O tema se relaciona diretamente aos diferentes relatórios oficiais que creditam ao turismo um papel relevante na economia mundial – aproximadamente 10% do PIB mundial e 9% dos empregos nos últimos anos.

Os números do turismo são sempre o maior desafio para aqueles que querem tratar do assunto a sério. Por maiores que sejam os esforços dedicados, ainda não surgiu um modelo eficiente que demonstre qual é efetivamente o papel do setor nas economias locais, especialmente quando se busca entender seu impacto nas cidades e não de maneira generalizada – os números do turismo internacional do Brasil, por exemplo, fazem mais sentido nas grandes cidades, e quase nenhum naquelas que estão a mais de 400km de um aeroporto internacional.

Há quase 15 anos estamos parados na cifra de 6 milhões de turistas internacionais, valor que varia
muito pouco mesmo com todas as oscilações no valor do Real (R$) e todo o empenho e dinheiro (mal) gasto nas campanhas de promoção internacional. Este volume é considerado baixo especialmente por ser equivalente ao volume de visitantes de atrações turísticas como a Torre Eiffel, com 7 milhões ou Pirâmides de Gizé, com 10 milhões em 2018.

Embora seja muito cedo para afirmar categoricamente, já há evidências de que o desempenho do
turismo no Brasil deve sofrer com a redução no número de turistas estrangeiros e com a mudança no padrão de consumo do turismo doméstico. O relatório da UNWTO divulgado em 9/09/2019 apontou queda de 5% no volume de turistas na América do Sul, em contraste com um crescimento médio de 4% em todo o mundo. Ainda que a principal causa seja a crise na Argentina, o país mais afetado é o Brasil, principal destino dos vizinhos, seja a negócios ou a lazer.

Some-se à questão econômica a deterioração significativa da imagem internacional do país – ao
contrário do que se dissemina, não é o marketing pago e direcionado que garante a atração de
visitantes, mas a consistência das mensagens disponíveis gratuitamente nos canais de mídia, tradicionais ou não – a imagem mental que cada consumidor potencial do Brasil possui é formada e influenciada pelo que aparece em suas telas individuais – e, portanto, somos hoje um combinado de violência, incêndios criminosos, preconceito, declarações ofensivas, perseguição a minorias e retrocesso em políticas públicas.

Ou, em outras palavras, não há orçamento disponível para peças publicitárias com os atuais (e muito questionáveis) “embaixadores do turismo” que superem o volume de compartilhamentos e comentários sobre os incêndios na Amazônia ou o desenrolar da investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, ou, mais recentemente, da garota Ágatha.

O desafio para o Brasil, seja em nível federal, mas especialmente para os governos locais, é reconhecer que o Turismo não funciona por mecanismos separados, independentes da lógica do governo. Ao contrário, é por meio da bem-sucedida intercessão entre setores que se percebem as muitas possibilidades de ganhos – econômicos e sociais.

Turistas não são extraterrestres, e nem ignorantes. Ao contrário, são cada vez mais informados e, de posse de seus equipamentos conectados, conseguem coletar muitas informações sobre o que fazer, como, quando e onde. Ao decidirem onde usarão seu cartão de crédito, determinam o desenvolvimento de um lugar – estimulam as empresas do setor, por óbvio, mas são agentes catalisadores do comércio de bens e serviços em larga escala.

O sucesso, portanto, não está relacionado a grandes produções de vídeo ou campanhas com
influenciadores. Depende, isso sim, da recuperação consistente da economia, da geração de emprego que garante renda e, por consequência, possibilidade de gastos com lazer, entretenimento e viagens. Da recuperação da confiança no consumo e da necessária valorização da autoestima do brasileiro, cuja alegria é nosso melhor cartão postal.

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